A fonte dos pardais | |
Por Paula Agualuza (Professora), em 2012/06/02 | 947 leram | 0 comentários | 288 gostam |
Era uma vez uma fonte à beira da estrada. Os pardais das árvores vizinhas tinham ali o seu ponto de encontro. | |
Matavam a sede, tomavam banho, chilreavam uns com os outros. De semana a semana, vinha um homem, sempre de automóvel, buscar água à fonte. Enchia uma quantidade de garrafões de plástico e, depois, abalava. Nessas alturas, a pardalada fugia para o poiso das árvores e ficava a observar. — O que é que ele vai fazer com tanta água? — intrigava-se um pardalito novo. — Deve ir regar as couves — sugeria um pardal. — Para regar as couves é pouca — replicava uma velha pardoca, muito conhecedora da vida. — Então é para ele beber — propunha outro pardal. — Para ele beber é muita — replicava a velha pardoca. — Para o que será? — perguntava o pardalito, sem que ninguém soubesse responder- -lhe. Decidiu investigar. Voou atrás do automóvel, mas como ainda tinha as asas com pouca força e a estrada era às curvas e contra-curvas, perdeu-lhe o rasto. E perdeu-se. Esvoaçou ao calhas, até descer sobre um telheiro, junto à estrada. No telheiro havia melões à venda e cebolas e batatas e garrafões de vinho. Alto lá! E também havia garrafões de água, tal e qual os que o homem do automóvel enchia, na fonte dos pardais. Se o pardal soubesse ler, leria no rótulo dos garrafões: “ÁGUA DA FONTE DA SAÚDE – Graças a ela, os novos crescem e os velhos não encolhem”. Aos saltinhos, diante dos garrafões, o pardalito admirava a fotografia do rótulo. Lá estava a fonte, centro da sua vida, e uns passarinhos a beber água no rebordo do tanque. Vendo bem, aquele mais pequeno, à direita, podia ser ele, o pardalito aventureiro. Muito orgulhoso da sua descoberta, o pardal voou muito alto, tão alto que, lá de cima, viu o telheiro dos garrafões, a estrada às curvas e a fonte da Saúde ou dos pardais, donde ele viera. Disparou em direcção ao ponto de partida e muito excitado piou para os companheiros: — Já sei o segredo dos garrafões. O homem anda a vender o nosso retrato mais o retrato da nossa fonte. — E a água para que serve? — perguntou um companheiro. — Para segurar o nosso retrato — respondeu, prontamente, o pardalito. António Torrado | |
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